quarta-feira, 15 de abril de 2009

Príncipio de prazer

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à sua volta os pombos cor de lava
nos arabescos pretos do basalto
e gente, muita gente que passava
e se detinha a olhá-la em sobressalto
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no seu olhar havia uma promessa
nos seus quadris dançava um desafio
num relançe de barco mas sem pressa
que fosse sol-poente pelo rio
.
trazia nos cabelos um perfume
a derramar-se em praias de alabastro
e um brilho mais sombrio quase lume
de fogo-fátuo a coroar um mastro
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seu porte altivo punha à vista o puro
princípio do prazer que caminhava
carnal e nobre e lúcido e seguro
como qualquer coisa de uma orquídea brava
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e nas ruas da baixa pombalina
sua blusa encarnada era a bandeira
e o grito da revolta na retina
de quem fosse atrás dela a vida inteira.
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Vasco Graça Moura, em "Antologia dos Sessenta Anos"
Post para a Tertúlia Virtual, desta vez sobre o desejo!

12 comentários:

  1. belo conjunto aqui deixaste e mais o prazer da menina que pintaste :)

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  2. Prazer em conhecer o belo blog..
    Abraço

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  3. Desconhecia o poema e não sou apreciador do Vasco. Mas, há que reconhecê-lo, um prazer esta poesia. Ás vezes o preconceito (o meu) afasta-nos do prazer. Boa escolha.

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  4. Legal teu blog e teu pequeno prazer...Um beijo,chica

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  5. "No seu olhar, havia uma promessa..."

    Que texto cheio de singularidades, um prazer em ler e conhecer seu espaço viu.

    Bjs

    Chris

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  6. Bonito poema Mena G!
    Parabéns.

    Beijinho

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  7. é com prazer que venho aqui me deliciar com seu texto maravilhoso... parabens!!!

    bjocas

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  8. Há um "selito" para si no meu blog. Bj

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  9. Linda e importante participação, como é de costume! Foi um prazer contar com você mais uma vez!

    Bjs

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  10. Olá amiga. Engraçado este poema, o autor é bem conhecido, mas desconhecia a sua veia poética, gostei e enquadra-se no tema. Tudo de bom para si.

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  11. "e nas ruas da baixa pombalina
    sua blusa encarnada era a bandeira"

    Eu vi lá no lugar essa blusa, estive junto a ela, toquei-lhe, abracei essa menina que cresceu e hoje, olho à minha volta e pergunto:
    "Que foi feito dela?"
    É que talvez sejam os meus olhos... mas não consigo reconhecer os seus traços.
    Bj
    Maria

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