"Caraças de cabelo o meu
Que raio de pelo
Valia mais tapá-lo
Disse-me eu
Valia mais cortá-lo
Disse-me ele
(o meu cabelo, claro)
Cortei-o
À escovinha
Nem a largura de um dedo
Soldado raso, parecia eu
Choveu
Deu um frio danado
A falta que me fazia o marafado
Nem penses que eu não cresço
Nem um dedo
Dizia-me ele
(o meu cabelo, pois)
Hoje decidi-me
De hoje e para todo o sempre
De hoje até à eternidade
Depois que desapareçam as estrelas
Depois que sejam só buracos negros
Anãs brancas
Dessas coisas estranhas
Hoje mesmo, tapo-o
Arrumo este malvado
Compro um monte de chápéus
Com abas
Com fitas de cores
Toucas
Boinas
Bonés à Corto Maltese
Cofiós dos negros
Fofos em palhinhas finas
Cinzentos, azuis
Vermelhos, pretos
E verdes
Chapéus verde alface com plumas
Sim, cabelo meu
Fica sabendo
De hoje para a frente
Nem um pelo deixo ver-te
Ficas tão airosa de chapéu
Disse-me ele
(o meu cabelo,
quem havera de sê-lo?!)"
.
(o cabelo é meu, o poema, da Fátima)